12 de julho de 2009

A visita de Obama e o “coitadismo” africano

“À memória de Michael Jackson (1958 - 2009) que dedicou parte significante da sua carreira à causa Africana” Por Constâncio Nguja Técnico Superior de Relações Internacionais Especialista em Relações Inter-Africanas e Pesquisador do CEMO www.nguja.blogspot.com cspnguja@hotmail.com Maputo-Moçambique I. Introdução A 16 de Maio de 2009, a Casa Branca anunciou que o Presidente dos Estados Unidos da América (EUA), Barack Obama e esposa, visitariam o Ghana, na sua primeira digressão à África Sub-sahariana. II. Breve histórico sobre o Ghana Há quem acredite que a escolha de Ghana para a primeira visita do presidente dos EUA deva-se ao facto deste país apresentar uma das melhores credenciais democráticas de África. O Ghana fica situado na África Ocidental. Limita-se a Oeste com a Costa do Marfim, a Norte com o Burkina Faso, a Leste com o Togo e a Sul com o Golfo da Guiné. A palavra “Ghana” significa “Rei Guerreiro”, e foi baptizado na Antiguidade, pelos reis do Império do Ghana . Durante a colonização inglesa, o país chamou-se oficialmente de Costa do Ouro. Em 1957 foi o primeiro Estado da África Subsahariana a alcançar a independência. O processo para a independência com conduzido por Kwame Nkrumah. Nkrumah foi um activista, não só para a independência do Ghana, como também para a independência de todos os Estados africanos, e a exaltação do pan-africanismo. Foi também um dos fundadores da Organização da Unidade Africana (OUA). Em 1960, com a retirada política official da Autoridade Britânica na antiga Costa do Ouro, Nkrumah re-baptizou aquele Estado de Ghana, uma forma de redescoberta da história do território. Em 1966, Kwame Nkrumah sofre um Golpe de Estado forjado por militares e, supostamente patrocinado pela Agência Central de Inteligência Americana (CIA). Este episódio faz claramente entender que os EUA já estavam directamente atentos aos acontecimentos daquele Estado Africano. Nkrumah exilou-se na Guiné, onde veio a morrer de cancro, em 1972. Uma série de golpes sucederam-se desde 1966 até que o Tenente Jerry Rawlings tomou o poder em 1981. Nesse mesmo ano, o novo presidente suspendeu a constituição e baniu os partidos politicos. A economia sofreu danos e muitos ghaneses emigraram. Depois de várias negociações com o Fundo Monetário Internacional na década de 80, o Ghana desenhou um plano de ajustamento estrutural para a recuperação económica (como aconteceu em muitos outros Estados africanos). Em 1992 era a vez das reformas políticas. Aprovou-se uma democracia multipartidária e organizaram-se eleições que culminaram com a vitória do lendário Jerry Rawlings. Para o desgosto dos seus adversários, Rawlings voltou a vencer nas eleições de 1996. Como não podia concorrer para um terceiro mandato em 2000, indicou o seu Vice, John Atta Mills que veio a perder com o candidato da oposição, John Kufuor. Este ultimo voltou a ser eleito em 2004, contra o mesmo candidato, Atta Mills. Em 2009, dado que esgotara os mandatos, cedeu o lugar ao seu Vice, Nana Akufo-Ado. Este, para a ironia do destino, perdeu as eleições para John Atta Mills. Há que denotar a maneira pacífica com que a transferência de poder é feita em Ghana, em nome da estabilidade democrática e do bem estar da nação. Ghana é membro da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (ECOWAS), da União Africana (UA), da Commonwealth e da Organização das Nações Unidas (ONU). O primeiro Secretário-Geral da África Sub-sahariana, Kofi Annan, é natural do Ghana. Economicamente falando, o Ghana é um dos maiores exportadores do ouro (é só lembrar que outrora se chamou de Costa do Ouro), mas também exporta cacau, Madeira, energia eléctrica, diamante, diamantes, bauxite e manganês. Há certeza de existência de petróleo comerciável em seu solo. Geralmente falando, o Ghana é tem uma economia das mais florescentes de África. III. Objectivos da visita de Obama A Casa Branca anunciou que a visita de Obama ao Ghana visava “fortificar as relações bilaterais com o país, e inteirar-se da situação regional”. Os EUA acreditam que o Ghana é um país bastante exemplar, e que tem influência, não só na região em que se encontra (África Ocidental), bem como no continente como um todo. Há que acreditar que os EUA quiseram compensar tacitamente uma nação florescente pelos seu empenho democratic. Foi como quis dizer: - Sigam o exemplo do Ghana e serão recompensados… IV. As reacções de outros países africanos Alguns Media africanos e ocidentais relataram o sentimento de renegação com que alguns Estados africanos ficaram quando souberam da escolha do Ghana para a primeira visita do presidente Obama. Destaque vai para o Quénia que continua a desenvolver a ideia de ganhar dividendos da presidência de Obama pela sua descendência paterna. Esse ciúme que os Estados africanos sentem entre si, desorganiza mais ainda o progresso geral do continente e a vontade de união que se pretende desenvolver. Em outras palavras, revela o “coitadismo” e o prosseguimento da “teoria dos carangueijos africanos”. V. Conclusão e recomendações gerais Um velho ditado da ciência das Relações internacionais diz que “entre Estados não existe amizade, mas interesses”. Daí que os Africanos deviam procurar entender a dinâmica das visitas dos presidentes do Ocidente. Ademais, as visitas daqueles politicos à África têm sido vistas como favores. Motivo pelo qual os Estados ficaram enciumados. Outro facto a se considerar é de que a visita de Obama ao Ghana é visita de mais um presidente dos EUA. A concepção segunda a qual Obama tem origens no Quénia faz com que se multipliquem as esperanças dos Africanos da governação deste presidente. Há que se retirar tais concepções, pois diz o ditado que, “quanto maior a esperança, maior a frustração”. Obama visita o Ghana como Clinton e Bush o fizeram durante os seus mandatos. Obama é filho dos EUA, é presidente dos Americanos e é assim que deve ser encarado por todos. Obama carrega a agenda dos americanos na sua bagagem. Obama foi eleito pelos americanos. Nós africanos devemos deixar de desenvolver apetências para com a visita dos chefes de governo dos Estados do ocidente. Devemos deixar de desenvolver o espírito de “coitadismo” e desenvolver o brio, a auto-estima, a auto-afirmação através da exaltação do lado bom das nossas culturas, das nossas tradições; através do trabalho árduo; da luta contra a pobreza; através do orgulho de se ser africano. Mandela deu seu exemplo ao não querer receber George Bush pelo seu character belicista. Talvez nenhum outro líder Africano fosse capaz disso, pelo sentiment “coitadista”. É tempo de reflector em torno do assunto. Nós devemos cultivar e desenvolver o sentimento de fraternidade entre nós e entre aqueles de fora que nos querem bem. Nada de cultivar o ciúme para com nossos irmãos. Exaltemos o nosso nacionalismo, o nacionalismo africano. Seria a única forma de relembrar os sonhos de Du Bois, Nkrumah e Nyerere. Unidos, venceremos qualquer luta. Foi com a unidade que vencemos o colonialismo e só com ela venceremos a pobreza!

Sem comentários: