“ Ama quem te aconselha e não quem te elogia”!
Boileau-Despréaux
Quando se fala em “ poder do povo”, quero eu entender que se fala das escolhas do povo. Fala-se das escolhas que o povo faz para que tenha acesso organizado aos recursos da sua nação. Fala-se ainda nas escolhas que o povo faz para que se-lhe proporcione segurança e bem estar.
Mas afinal de contas, de que povo se fala? Será que “povo” existe? Quero entender que “povo” é a população politicamente definida. Maldita hora em que não tenho comigo um dicionário de ciência política, neste preciso momento. Mas, pelo que consta no meu dicionário universal de língua portuguesa (Moçambique Editora), “povo [é] conjunto dos habitantes de um país, de uma localidade, etc”… Mas define-a também como “multidão de gente” e, interessante ainda, como “… a classe inferior da sociedade, o público”.
“Poder do povo” está expresso numa única palavra que nos é familiar: DEMOCRACIA!
A democracia foi-nos “oferecida” como sistema politico a seguir, desde 1992, durante a assinatura dos acordos de paz que puseram termo a uma guerra civil que durou 16 anos. Pela democracia o povo já podia dispor de vários partidos políticos (o famoso multipartidarismo). Podia ainda “escolher” a quem confiar a gestão do poder político de 5 em 5 anos. Podia ainda mais, escolher o partido que contivesse uma lista (inacessível, pelo menos antes das eleições) dos seus “representantes” às assembleias (quer nacional, quer municipais)…
Mas eis que os mentores do sistema democrático se esqueceram de dar ao povo, o direito de escolher quem devia ser o candidato a candidato de um partido para presidentes, tanto do município, como para o país. O povo só deve escolher o candidato que as troikas dos partidos tiverem indicado.
Pior ainda, o sistema (pelo menos em Moçambique) não dá direito ao povo de conhecer quem serão os seus “representantes” nas assembleias municipais e da república. Essa democracia é do tipo: cala a boca e vota somente no símbolo que vai encontrar no boletim das legislativas.. o resto sabê-lo-ás após os resultados, aliás, após que iniciarem as sessões da Assembleia da República (ou Municipal)… Se os deputados serão assados, fritos ou cozidos, não interessa… são as escolhas que tens e faça questão de usufruí-las! E o povo, ciente de nunca ter tido a oportunidade de escolher os seus dirigentes e “representantes”, opta por fazê-lo, ou seja, vota no que lhe é disponibilizado. Como diria o primo Soca machuabo: na muire baní (fazer o quê)!?
Entenda-se que a democracia aqui referida vale para todos os estados que a aderem, com alguns desvios nalguns pontos. Exemplo dos desvios, são os Estados Unidos da América que amenizam a escolha dos candidatos com as chamadas “primárias”. Nessas primárias, o colégio eleitoral, através dos super-delegados, seleccionam (dentre vários) o candidato mais requintado, sofisticado e apurado possível.
Enfim, são as escolhas que a democracia oferece! Ao menos não é obrigatória…
Para terminar, quero apelar ao bom senso das elites políticas deste belo país que comecem a velar pelo povo e às suas necessidades. Este artigo não tenciona ofender a ninguém, mas contribuir para uma boa governação, numa altura em que o país vive momentos de eleições.
Não deixo de louvar os feitos dos presidentes cessantes dos conselhos municipais Eneas Comiche (de Maputo), e Deviz Simango (da Beira). Espero e acredito que todos outros que saírem vitoriosos destas eleições de 19 de Dezembro (que por sinal é data do meu aniversário) dêem o seu melhor (e que mesmo melhor) para os povos dos seus municípios… Pela democracia, “o povo é que está no poder”, segundo mano Azagaia.
Moçambique agradece!
* Constâncio Nguja é técnico superior de Relações Internacionais e analista de assuntos de política internacional.
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