5 de março de 2009
AFRICA: POBRE OU EMPOBRECIDA?
Por Constâncio Nguja
Parte II: Causas Internas para o empobrecimento
Á memória de Nino Vieira e de todos os africanos que foram mortos pelos seus irmãos…
Caros concidadãos!
Esta é a segunda parte do meu diagnóstico sobre África. A análise se centra essencialmente nas causas internas para o empobrecimento deste continente.
África é pobre sim… Entretanto o que mais preocupa é que nós africanos pouco fazemos para a tirarmos dessa situação.
Se bem que os europeus alteraram a nossa história e deixaram o nosso continente no turbilhão em que se encontra, nós os africanos tivemos a nossa dose de culpa. Se atentarmos à história da África antiga, parece que a prática da escravatura já existia entre os Mwenemutapas, o Egipto antigo, os Tchakas, os Matacas, etc. Africanos vendiam seus próprios irmãos. Africanos exploravam seus próprios irmãos (através de pedidos de tributos, trabalho forçado, etc). Africanos traíam-se entre si. Aliás, a facilidade com que os europeus tomaram o continente negro deveu-se por parte à desunião entre os seus habitantes. Africanos lutavam entre si e os europeus tiravam proveito disso. É verdade que os reinos, impérios e estados africanos de outrora tomavam um rumo progressivo. Mas tenho minhas dúvidas sobre um possível progresso das sociedades civis. Talvez a África tivesse situações de reinados monárquicos como os da Swazilândia ou o do Reino Unido. Talvez não… Infelizmente não cursei História para uma melhor análise do assunto. Vou me centrar no tema de debate.
A partir do trecho acima pude identificar o primeiro problema de ordem interna para o empobrecimento de África: o sentimento de inveja! Os africanos olham-se entre si com desconfiança, inimizade e inveja. Dói-me saber que estes sentimentos são seculares e ainda prevalecem. Deixem-me contar uma parábola sobre essa questão que ouvi nas histórias de fogueira (pode ser que eu não a conte melhor, mas procurarei trazer a mensagem):
“Um homem estrangeiro apanhava carangueijos numa praia Africana. Ele introduzia os carangueijos num cesto e nem sequer o tapava. As pessoas que ali passavam ficavam pasmas com a despreocupação deste em tapar o cesto. Um grupo de senhoras não se conteve e perguntou ao homem:
- Meu senhor, não teme que os carangueijos fujam do cesto?
O homem respondeu com um sorriso modesto:
- Não se preocupe, minha senhora. São carangueijos africanos… Sempre que um dos carangueijos quiser fugir, os restantes tratarão de empurrá-lo de volta... ”
Foi com muita tristeza que eu ouvi a parábola… Mas hoje consigo percebê-la melhor do que nunca. O músico moçambicano Azagaia tem uma música que retrata assunto semelhante. Lamento não precisar o seu título.
O importante é reconhecer este problema e fazer de tudo para combatê-lo. É a tarefa de cada um de nós. Como se diz, a mudança começa aqui contigo, comigo, connosco! Escrevamos isso nas nossas agendas e confiramos se cumprímo-la ao fim do dia, ao preenchermos o nosso diário.
A seguir, denoto o “espírito de pobreza” como a segunda causa de ordem interna para o empobrecimento do continente africano. Espírito de pobreza é um sentimento de inércia, falta de vontade de progredir, apegamento ao conservadorismo, etc. As sociedades africanas são maioritariamente paternalistas e entre si, a mulher tem muito pouca voz e só serve para procriar e servir o seu marido. Se bem que este não é um problema meramente africano, é sobre África que estou analisando. Eu concordo plenamente com a maxima ocidental de que “educar uma mulher é educar uma família… uma sociedade”. Eu que vos escrevo sou fruto de educação de uma mulher: minha mãe, minha heroína! Após ter perdido meu pai, minha mãe teve a dura tarefa de criar 4 filhos. Eu sou o mais velho e tinha somente 12 anos de idade. Dois outros meus irmãos estavam também em idade escolar e a mais nova era recém-nascida. Minha mãe era professora com nível básico (10a classe) e auferia o salário mínimo. Apesar disso, ela sempre disponibilizou meios para que a gente estudasse. Hoje que vos falo estou prestes a obter a minha licenciatura, os meus dois irmãos já concluíram o nível médio (12a classe) e um deles trabalha. Mais interessante ainda: a minha mãe não se deixou estagnar e está prestes a obter seu grau de licenciatura em Geografia pela Universidade Pedagógica. Acredito que a profissão dela tenha ajudado bastante para tamanha ambição.
Como podeis observar, dentro das nossas culturas, devemos seleccionar o que é bonito, importante e útil para o nosso progresso. Eu nunca soube porque ainda se pratica a excisão feminina nos países muçulmanos da África do Norte. Li testemunhos sobre o assunto, mas estes só me aumentaram a curiosidade. A boa notícia e que existe uma luta acerrida em prol da extinção desta prática. Interessante ainda é que a luta parte das próprias mulheres (apesar de ser a partir da diáspora). Eu acredito na teoria feminista das Relações Internacionais segundo a qual se o mundo fosse governado por mulheres teria menos conflitos do que já tem. As mulheres são mais compadecidas, são mais comunistas (no sentido bom), e são mais ponderadas. Para comprovar isto não precisa procurar um psicólogo ou sociólogo. Basta olhar às mulheres à nossa volta e concluir.
Nós africanos devemos ser mais ponderados, mais selectivos e suficientemente inteligentes para explorar tudo de bom que tivermos à nossa volta. É um desafio para cada um de nós. E a implementação começa aqui contigo, comigo, connosco!
Uma terceira causa para o empobrecimento de África é o analfabetismo e a exiguidade de informação por parte da população. Felizmente, alguns governos têm se empenhado bastante na educação e alfabetização dos seus povos. Só ponho em causa a qualidade do ensino. Mas isso vem à posteriori.
É necessário dinamizar a educação, reformular os curricula de educação dando mais ênfase ao pan-africanismo. O pan-africanismo significaria ensinar o povo sobre a África, a sua geografia, sua história, os seus recursos, a sua situação económica, as causas, a comparação dela com os outros continentes em todos aspectos, os métodos que os outros usaram para estarem onde estão, a exequibilidade desses métodos em África, possíveis saídas e, acima de tudo, fomentar uma cultura de debate para que cada um deia o seu contributo de como se pode progredir à maneira africana. Talvez pudéssemos adoptar a um African way of development (modo africano de desenvolvimento)!
Vem ainda a questão da difusão da informação. Eu vivi em distritos remotos da província de Cabo Delgado e Nampula. Estes distritos estavam totalmente desprovidos que eu concluí que a política do governo do presidente Armando Guebuza (de Moçambique) que define o “distrito como pólo de desenvolvimento”, não podia ser oportuna quanto agora. Mas aconselho que esta política seja acompanhada de boa planificação, bons gestores e boa monitoria e avaliação. A ideia é muito boa e todos os governos de África deviam adoptá-la. Há que prover a população de vias de acesso, meios de informação (para que as populações possam comparar a sua maneira de vida com a dos outros povos), bem como infra-estruturas básicas suficientes (escolas, hospitais, postos policiais, etc).
O desafio é de cada um dos governos africanos. O nosso papel como sociedade civil é de exigir satisfações. Quando não satisfeitas, cabe-nos substituir os governos. A implementação destes ideais começa aqui contigo, comigo, connosco!
Para concluir, denotar que todos outros males como a corrupção, a ganância (que leva a guerras, golpes de estado, assassinatos, etc), a má governação e outros, derivam daqueles três problemas básicos que podem se resolver se cada um de nós quiser. Cada um de nós deve se comprometer com a causa Africana. Todos juntos faremos a diferença. Devemos explorar o melhor da pior situação em que nos encontramos. A mudança começa aqui contigo, comigo, connosco! ÁFRICA AGRADECE…
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