11 de dezembro de 2009
NOBEL DA PAZ QUE DEFENDE A GUERRA?
INTRODUÇÃO
O discurso proferido pelo vencedor do Nobel da Paz de 2009 na cerimónia de recepção, em Oslo, foi recheado de guerra. Em pouco mais de 20 minutos, Barack Obama pronunciou 18 vezes a palavra, numa tentativa de convencer o mundo da necessidade de combater o terror para garantir a paz no futuro. O presidente dos Estados Unidos sustentou que "os instrumentos da guerra têm um papel a desempenhar na preservação da paz" e afirmou que não ficará "imóvel ante as ameaças" ao povo americano. Para o secretário do Comité Nobel, Geir Lundestad, é "totalmente aceitável" que Obama defenda a guerra ao receber a maior honraria entre os que lutam contra ela.
OBAMA É PRESIDENTE NORTE-AMERICANO
Antes de mais, e necessário entender que Barack Obama é presidente dos Estados Unidos da América (EUA). Isso significa claramente que, como qualquer outro presidente daquela nação, deve entender e defender ferrenhamente os interesses nacionais. Deixa fazê-los entender um pouco sobre tais interesses. Segundo Henry Kissinger (1994), desde a presidência de Theodore Roosevelt, no inicio do século XX, a América apresenta apetites e sinais de expansão de influência. Já antes, em 1823, tal necessidade de expansão e busca de esferas de influência tinha sido dada pela famosa máxima apetrechada pelo então presidente James Monroe, segundo a qual a "A América é dos Americanos"! É a famosa Doutrina Monroe. Segundo esta doutrina, nenhuma outra potência (senão os EUA) tinha direito de intervir no continente americano. Se isso acontecesse, a potência invasora constituía ameaça imediata aos EUA, contudo, motivo para guerra. Foi em nome dessa doutrina que os EUA intervieram em vários países da América Latina, como Cuba entre (1906 a 1909, em 1912 e 1917 a 1922), o Haiti (entre 1915 a 1934), a República Dominicana (entre 1916 e 1924) e a Nicarágua (entre 1909 a 1910 e 1912 a 1933). Foi também em nome desta doutrina que a Espanha foi escorraçada do hemisfério latino-americano. Panamá foi resultado da intervenção dos EUA na América Central e Antilhas. Hoje em dia, muitos líderes da América Latina olham qualquer passo dos EUA com desconfiança porque acham que esta está ainda "busy" em prosseguir com a Doutrina Monroe. Talvez sim, talvez não. Os interesses da América ultrapassaram o hemisfério americano. Leia-se o livro do Sardar e Davies (2003), que tem dois capítulos intitulados "A América é o Mundo" e "O Mundo é a América"! Fica claro que o interesse da América é o mundo. Ate nós africanos fomos brindados com a AFRICOM – comando militar americano que visa "defender a África". Sardar & Davies (2003) dizem que o último reduto que não queria aceitar o sabor da Coca-Cola e os hambúrgueres da Mac Donald's foi o Iraque. Mas lá se foi. Hoje em dia só fazes parte do convívio das nações se escutas hip hop (se fores da linhagem dura) e pop (se fores das elites, aka fofinho). A América venceu, podem crer. Canta-se pop aqui, ali e acolá. Diga-se de passagem, também o hip hop. Confiram no "atracções", "music box", "vicio moz" e "cocktail". Ademais, um autor americano chamado Walter Russel Mead escreveu em 2004, sobre o "sticky power" o que para mim reforça a máxima de que a América é o mundo. Sabem o que é? Traduzido significaria "poder pegajoso". Stick significa cola. Mead deu a entender que o mundo estava colado à América. Eu duvidei. Mas acabei tirando a minha dúvida cinco anos depois. Quem de vós não ouviu falar da crise financeira de que o mundo está se recuperando? Sabeis vós de onde ela começou? Dos Estados Unidos da América, claro. Um banqueiro famoso de nome Bernard Madoff envolveu-se em esquemas de fraude financeira quando gestor da bolsa americana chamada NASDAQ. Entenda-se bem, a crise iniciou na América. Não durou meses para que bancos e posteriormente economias de todo o mundo começassem a entrar em recessão. Crise americana que se tornou mundial. Isto é que é "sticky policy". Se a América cai, todo o mundo cai. Mais nenhum outro Estado no mundo tem esse poder, diga-se de passagem.
MUDAM-SE OS PRESIDENTES, MANTÊM-SE OS INTERESSES
Conhecem um presidente Norte-americano, desde Roosevelt que não esteve em guerra? Eu não! Roosevelt (que por acaso também recebeu o Prémio Nobel da Paz) instigou e patrocinou a separação do Panamá e a Colômbia. O seu governo interveio na Republica Dominicana (1905) e Cuba (1906). Wilson esteve envolvido na I Guerra Mundial. Franklin Roosevelt, na II Guerra Mundial. Harry Truman foi quem autorizou o lançamento das bombas atómicas ao Japão, no fim da II Guerra Mundial e o presidente Americano que teve a responsabilidade de embarcar na Guerra Fria com a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), em 1946. Desde esse ano até 1992 todos os presidentes tiveram seus episódios relativos à Guerra Fria. A lista é vasta que não caberia nesta reflexão. Até a guerra civil em Moçambique entra nesse leque de conflitos relativos à Guerra Fria. Após a queda do muro de Berlim e término da Guerra Fria, Bush I invadiu o Iraque. Clinton (e aliados da NATO) interveio no Kosovo. Bush II foi o recordista, ao intervir no Afeganistão e Iraque num só mandato. E porque acham que Obama seria diferente? Este acaba de anunciar que vai enviar 30 mil soldados para reforçar o contingente americano no Afeganistão. Ou seja, Obama vai alimentar a já existente guerra no Afeganistão. Talvez tenha que ressalvar que não estou a avaliar a justeza ou não das guerras. Não cabe a mim fazê-lo. Eu estou simplesmente a falar delas e quiçá, para denotar que Barack Obama não é tão diferente a todos outros presidentes que a América já teve (como se previa).
OS INTERESSES AMERICANOS
Segundo Carolina Cordeiro (2002), A América ergueu uma forte indústria de armamento que precisa de ser manutenção. A manutenção de uma indústria de armamento, entenda-se, tem sido pela existência das guerras. Se não há guerras, a indústria bélica fale e o Estado tem a segurança em causa. A segurança é um interesse vital. Logo, a indústria bélica é também vital. Por isso, qualquer presidente dos EUA, ou tem que declarar guerra, ou deve patrocinar uma já existente, ou deve instigar para que ela surja em qualquer canto do mundo. Obama não é excepção!
Os EUA padronizaram o dólar como a moeda de transacção internacional, após a sua emergência como hiper-potencia. Qualquer presidente tem como missão manter a hegemonia do dólar como a moeda de transacção internacional. Obama não é excepção!
A economia e sociedade americanas desenvolveram de tal maneira que necessitam de quase metade do petróleo mundial. O "american way of life" define que um americano da classe média tenha no mínimo dois carros. Esses carros são movidos a combustíveis fósseis (Petróleo). Qualquer presidente daquele país deve convencer ao povo sobre uma boa política de energia. Para tal há que controlar a maioria das reservas mundiais do "ouro negro". Esse controlo pode ser por afinidade (como na Arábia Saudita, Angola, etc) ou por uso da força (como no Iraque, Kuwait e outros). Às vezes, tem sido necessário "engolir sapos" para garantir a demanda de petróleo (caso da Venezuela de Hugo Chavez). Obama não é excepção!
CONCLUSÃO
O Premio Nobel da Paz foi estabelecido em 1902 (data da primeira atribuição), para distinguir personalidades e instituições notáveis na construção da paz e prosperidade mundiais. É o mais importante prémio existente na face da terra. Eu admiro Barack Obama, até mesmo por ter reconhecido perante o mundo inteiro que ele não merecia aquele prémio. Obama não é belicista, mas nada fez para merecer um prémio de tamanho gabarito. Já que o tem em mão, a mim resta desejar parabéns… Cabe a si pôr-se à mercê do mesmo… Força e muito trabalho! Quem sabe, no final do mandato nós ainda digamos: é agora que o prémio devia vir às mãos do homem! Yes, you can!
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
1. "Madoff’s Victims", The Wall Street Journal, December 16, 2008. Página visitada em December 17, 2008.
2. KISSINGER, Henry (1994). Diplomacia. Gradiva. Lisboa
3. Sardar, Ziaudin & Davies, Merryl (2003). Porque Somos Anti-Americanos? Quetzal. Lisboa.
4. Walter Russel Mead (2004). American Sticky Policy. Foreign Policy. March/April. Available in http://www.foreignpolicy.com/users/login.php?story_id=2504&URL=http://www.foreignpolicy.com/story/cms.php?story_id=2504
5. www.ciari.org/investigacao/verd_motivos_GWBush.pdf
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