19 de maio de 2011

MOCAMBIQUE, AFRICA E O MUNDO EM 2011

A POLITICA EXTERNA E INTERNACIONAL: DESAFIOS PARA 2011

Constâncio Nguja

2010 foi um ano de muitos desafios tanto para a política externa de Moçambique, como para a política internacional em geral. No que concerne à política externa, Moçambique teve que se deparar com:
• novas exigências e morosidade dos Parceiros do Apoio Programático (PAP) no desembolso de fundos para o apoio ao Orçamento do Estado (OE);
• as acusações do Departamento do Tesouro Norte-Americano sobre o envolvimento do empresário Momade Bashir Sulemane no tráfico de drogas;
• a intensa pressão do Malawi para a navegabilidade dos Rios Zambeze e Chire;
• a subida do preço do trigo no sistema internacional, que culminou com o anúncio do agravamento do preço do pão e um posterior subsidiamento pelo governo;
• as divulgações da wikileaks sobre um possível cumplicidade de políticos Moçambicanos eminentes (incluindo o actual Presidente da República, Armando Guebuza, e o ex, Joaquim Chissano) no tráfico de droga;
• e por fim, a subida do preço do barril do petróleo no sistema internacional.

No tocante aos acontecimentos marcantes, no sistema internacional em geral, talvez seja necessário separar o continente Africano e o resto do Mundo. África teve que se deparar com:
• A copa Mundial 2010, que pela primeira vez teve lugar em solo Africano (concretamente na África do Sul);
• Eleições na Guiné Conackry, depois de muitos anos de regimes militares, tendo passado o poder para às mãos dos civis;
• O “golpe de Estado” na Costa do Marfim perpetrado por Laurent Gbagbo contra o candidato vencedor das eleições presidenciais naquele país, Alassane Ouattara. O mais importante acontecimento foi o “consenso” entre os demais líderes Africanos sobre a derrota de Gbagbo, o que denota que tais líderes começam a convergir na ideia sobre os conceitos de democracia e de eleições.

E no resto do mundo:
• O sismo no Haiti que ceifou a vida de pelo menos 200 mil pessoas. O sismo de Haiti vem mais uma vez provar que a natureza e o meio ambiente deve constar na agenda da planificação dos Estados;
• As polémicas divulgações do wikileaks. Apesar de terem trazido muito pouca novidade, estas tem estado a agitar o mundo enquanto duram;
• A vitoria dos Republicanos no Congresso Americano;
• A crise económico-financeira na Europa e o questionamento da viabilidade da Zona Euro;
• A abertura do governo cubano às reformas, o que pode simbolizar a queda do penúltimo dominó do comunismo (se considerarmos que a Coreia do Norte está sob regime comunista);
• A saída de Lula da Silva e o seu legado de ascensão do Brasil como uma potência regional, bem como a luta para a imposição daquele país como potência emergente no sistema internacional como um todo;
Perante este remarques, que cenários podem se esperar para 2011?
Ao nível da Politica Externa de Moçambique:
• O Estado Moçambicano deve se preparar para mais um ciclo de pressões por parte do Malawi, em relação à navegabilidade do Zambeze e Chire, visto que o governo malawiano já inaugurou o seu porto em Nsanje. Ademais, o cenário agrava-se com a expulsão da Vice-Presidente Joyce Banda do partido no poder, que era acusada de manter “relações privilegiadas com Moçambique”;

• Quanto às relações com os Estados Unidos da América, dado que as análises tendem a concluir que os desaires foram agravados pelo então Chefe da Missão Diplomática, Todd Chapman, espera-se que a nova Embaixadora, a Senhora Leslie Rowe, traga um novo capítulo mais amigável entre os dois Estados. Ademais, isso não depende somente de uma das partes, mas do esforço de ambas!;

• No que concerne à subida do preço internacional do trigo e sua farinha, quero acreditar que o governo tem estado a envidar esforços no sentido de atiçar as políticas agrárias, visando o fomento da produção agrícola. A curto prazo, nada se pode esperar! Há que admitir que o governo negligenciou o sector agrícola por muito tempo. Por ora, resta louvar e encorajá-lo pelas novas decisões tomadas até à data, e esperar que haja seriedade na implementação das mesmas;

• Por último, mas não menos importante, Moçambique deve se preparar para fazer face à tendente subida do preço do barril de petróleo no mercado internacional. A demanda da China e a pressão Americana, mais o futuro do Sudão (que está a passar por um referendo que pode levar à sua divisão em dois Estados), implicará uma nova estratégia na partilha desse recurso, que pode ter implicações nos demais países Africanos não produtores;

E, para a África:
• O debate sobre a Costa do Marfim tenderá a durar, caso a comunidade internacional não use a força para retirar o candidato perdedor, Laurent Gbagbo do poder. É necessário ressalvar que tal acção devia tomar lugar a curto prazo, visto que depois, pode ser tarde porque o inimigo já terá manipulado as populações a seu favor, para uma situação igual a que aconteceu com os Estados Unidos da América na Somália, entre 1992 e 1994;

• O pós-referendo trará muito que se discutir entre os opinion-makers sobre a política internacional, sobretudo de África. O resultado do referendo, a divergência entre os movimentos do Sul, o petróleo, o acesso ao mar, a região de Abiey, possível irredentismo para Darfur, a anunciada Sharia para o Norte, a caça a Bashir pelo Tribunal de Haia, entre outros, serão os assuntos a serem debatidos nas próximas manchetes.

A terminar, para o Mundo:
• Ajustes na política externa Americana devidos à maioria Republicana no Congresso;
• A tendente subida do preço do petróleo;
• A crescente ascensão da China face à queda do Ocidente (e principalmente na Europa) devido às crises económico-financeiras;
• Um possível ataque do Israel ao Irão (prenunciado no ano passado) para que este não termine o seu programa nuclear (o que constitui uma séria ameaça à existência sobrevivência do Estado semita). Essa possibilidade agrava-se com a denúncia da desunião entre os árabes pela wikileaks;
• Dilma Roussef como Presidente e novos estilos na condução da política externa do Brasil;
• A queda do penúltimo dominó comunista – Cuba – face à crise económica com que se depara;
• Novos contornos da crise na península coreana, com tendência à guerra, face ao apoio dos EUA à Coreia do Sul, os ataques da Coreia do Norte, e o incómodo da presença Americana na região para a China;
• Status quo no conflito Israelo-Palestiniano, face a um plano de paz mal confeccionado pela Administração Obama (que não envolve o quarteto, o Hamas, a convergência entre os Israelitas, entre outros erros);
• Etc.

Conclusão
O artigo visa servir de guia para os Moçambicanos na leitura dos fenómenos internacionais que, directa ou indirectamente poderão afectar as suas vidas, em 2011. É mais uma daquelas vezes em que se pretende se usar a ciência ao serviço do povo.

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