4 de março de 2009

ÁFRICA: POBRE OU EMPOBRECIDA?

Por Constâncio Nguja Parte I: causas externas para a pobreza Africana Meus caros! É sempre bom interagir com vossas pessoas… eis-me aqui com mais um assunto que desejo compartilhar convosco: as causas e as possíveis soluções para a pobreza do continente africano. Africa é um dos 5 continentes povoados do planeta terra. Contém 53 países e tem uma geografia, história e economia peculiares. Pelo mapa, é de longe o continente com o recorte melhor arquitectado. O seu desenho assemelha-se ao crâneo de um ser humano. Talvez por ser o chamado “berço da humanidade”. Poucas ilhas, o único que é simultaneamente atravessado por ambos trópicos de cancer e crapicórnio, com quase todos os tipos de clima (temperado, tropical e equatorial) e muito pouca actividade sísmica. Historicamente, a sua peculiaridade reside no facto de ter sido o continente que sofreu a mais intensa forma de colonização. Este continente teve a particularidade de lhe ser retirado parte da sua população para a prática da escravatura. A escravatura deve ser enfatizada porque ela denegriu a imagem dos pretos. Alias, denegriu? Como podeis observer, só termo denegrir vem de negro, que significa tornar mau. É frequente ouvir clichés do tipo “a coisa está preta”. O preto significa penúria, tristeza, impasse… enfim, tudo que é mau! Preto e branco são simples cores da natureza. Mas os humanos codificaram-nas, de modo que uma significasse alegria e outra, tristeza. Em Africa o preto significa empregado… alias, em todo o mundo, o preto não ocupa cargos de destaque (como gestores de instituiçoes internacionais, presidentes de países de outros continentes, etc). Às raras vezes em que tal acontece, para além de ser objecto de conversa na imprensa de todo o mundo, tem sido porque os brancos assim quiseram. E digo mais: o preto deve estar no cargo para satisfazer os interesses daqueles que o puseram: os brancos! Quantas vezes não vimos a ONU de Kofi Annan a ser “minhada” pelas demais potências ocidentais? Quanto não se falou quando Barack Obama ganhou as eleições? A imprensa teima em repisar: “o primeiro presidente negro dos Estados Unidos da América”. Porque é que não o tratam somente de “o 44º presidente dos EUA?”. Os Media querem denotar que os EUA tiveram uma história que se fechou com a saída de George Bush II. A outra começa com a ascensão de um “negro”: Barack Obama. Esqueci-me de mencionar que os pretos que ocupam lugares de destaque na arena internacional, devem antes ter estudado em “melhores” universidades do países ocidentais. Alias, só entendes de cultura geral se souberes que o presidente dos EUA chama-se Barack Obama, que as melhores universidades do mundo são Harvard e Oxford, e a capital da França é Paris. Acreditem que os americanos e europeus nem sequer sabem que África é um continente que tem países. Eles pensam que Africa é um país. Alias, minhas amigas americanas perguntam “como vai a África”? É como se eu conhecesse toda a África. Só não sei quem entre nós quem é mais sábio: se eu que me formei no ISRI (e conheço um pouco de todo o mundo) e eles que se formaram em Harvard, Yale, Oxford e Georgetown (e nem sequer conhecem que África é um continente)! Economicamente, este continente tem a única particularidade de ser pobre. Muito pobre. Africa não tem nenhum país desenvolvido. O ciclo financeiro internacional passa em todos os continentes, menos em África. Os míseros trocos que chegam em África aparecem em forma de ajuda humanitária. Em investimento, nem pensar, apesar do capital ter provindo do ouro pilhado mormente deste continente. A estes, junta-se o factor politico da política de “dividir para reinar”, reinante na época do colonialismo. Hoje os povos africanos sentem o efeito dessa política. Enquanto que os países europeus têm uma massa etnicamente homogênea, a África foi partilhada sem se ter tomado em conta a antropologia prevalecente. Há Swahilis na Tanzania e outros no Norte de Moçambique. Nyanjas em Niassa e outros no Malawi. Até que isto não é mau para um mundo que se quer “globalizado”. Mas torna-se mau a partir do momento em que a etnicidade gera conflitos. As etnias já não se toleram e, mais de metade dos conflitos em África têm raízes étnicas. É o caso dos Hutus e Tutsi no Ruanda, Burundi, Uganda e República Democrática do Congo (RDC). O efeito contágio (spill-over effect) tem se feito sentir na maior. Factos recentes denotam que tutsi que vivem na RDC se rebelam contra hutu. E o mais agravante é que os governos vizinhos apoiam as facções segundo a etnia a que ele pertence. O ocidente sabe disso, mas intervém somente quando lhe interessa. Alias, muitas vezes quando tiram proveito desses conflitos. Dentre os proveitos, destacam-se a venda de armas, a compra dos recursos minerais a baixos preços, a compra do petróleo a baixos preços, etc. Será que as “melhores” universidades do ocidente ensinam a produzir armamentos, a patrocinar guerras e a ficar indiferentes com o sofrimento dos outros? São estas “melhores” universidades de que os brancos se referem? É esta a dita “melhor” educação, a que ensina a matar, a nem sequer saber dos outros, a venerar o capital mesmo que em detrimento de vidas? Se é isso, prefiro 1 milhão de vezes a minha educação Africana que me ensina a respeitar, amar, a agradecer, a me sentir compadecido, mesmo com o meu inimigo. Se os africanos se corromperam foi e é por causa dos “valores” que os ocidentais inculcaram. Nas conversas de lareira, os nossos avós nos ensinaram a amar, a respeitar, a agradecer, entre outros bons valores. Aliás, cá entre nós, ninguém produz armamentos. Fazem-se de querer julgar Bashir, Taylor e outros, mas esquecem-se que as armas que eles usaram, foram de fabrico dos países ocidentais. Quanta hipocrisia! E sabem o que me dói? NÃO PODER FAZER NADA! Ps: este artigo é a primeira parte da obra que desejo publicar. Sobre ele tenho os meus direitos de autor. Mas o que me interessa mesmo é que ele consciencialize o ocidente a reconhecer as culpas que tem no empobrecimento de África e tomem medidas suficientes para que a situação se colmate. Nós merecemos a paz, a justiça e o bem estar! África agradece.

3 comentários:

Maurício Tembe disse...

Nguja, força pelo artigo. Gosto dos teus comentários no Observatório Internacional.
Para quando será a obra?

CONSTANCIO NGUJA disse...

Opa, que bom. Meu caro, agradeco pela forca. A obra saira nos proximos anos, para o doutoramento. Tive que reservar o tempo para a pesquisa para o mestrado. Saberas na hora, prometo. Mais uma vez, thanks pela forca...

Alexandre Nhampossa disse...
Este comentário foi removido pelo autor.